PONTO DE VISTA
Bolsonaro, Covid-19 e o Brasil quebrado
Publicado: 22 Junho, 2020 - 14h41 | Última modificação: 22 Junho, 2020 - 15h11
Escrito por: CUT-PA

O ano de 2020 ficará marcado na História como o ano em que o mundo sofreu uma das mais graves pandemias da História da humanidade. Além dos inúmeros óbitos e também de salvamentos, a humanidade precisou rever o tipo de sociedade que estava se desenvolvendo sob a influência da globalização da economia capitalista, além do domínio político da doutrina do neoliberalismo em boa parte do mundo.
Apesar de que o sistema capitalista se encontrava em processo de recuperação da crise econômica de 2008 (a famosa crise da bolha imobiliária dos Estados Unidos), mostrando que nações como a China e os Estados Unidos registravam índices de crescimento na renda de seus mercados assim como também da geração de empregos e a União Europeia, que apesar da hegemonia econômica alemã em seu bloco, estava registrando também índices de recuperação econômica em vários países da chamada zona do euro.
A Covid-19, originada na China, expandiu-se pelo mundo, causando diversos problemas e crises, tanto na área da saúde como também nas áreas econômica e social, levando as economias a um processo de queda vertiginosa muito grande, fechando diversas atividades econômicas e multiplicando o número de desempregados em vários países.
Os Estados Unidos que, segundo o seu presidente Donald Trump discursava até 2019, falando da recuperação econômica de seu país e na redução do desemprego entre os cidadãos estadonindenses, porém, com a crise da Covid-19, isto mudou drasticamente, mostrando agora que os Estados Unidos tinham, segundo dados de seu próprio Governo, mais de 20 milhões de desempregados e outros tantos subempregados, algo que surpreendeu até mesmo os críticos mais pessimistas de seu país, levando esta situação associada a outras (a exemplo dos protestos espalhados pelos Estados Unidos contra a violência policial e o racismo ainda forte naquela sociedade) a preocupar o próprio presidente Donald Trump, no que se refere a sua reeleição na campanha presidencial que marcará ainda em 2020, as eleições presidenciais naquele país.
Já aqui no Brasil, o ano de 2020 começou com registros de um crescimento pífio de nossa economia, calculado em 1,01%, mostrando a total incapacidade do Governo Federal do presidente Jair Bolsonaro de buscar estratégias que se mostrassem mais eficazes com o desenvolvimento do Brasil e do fracasso da política econômica defendida pelo Ministro desta pasta Paulo Guedes, fora os problemas sociais persistentes do aumento do desemprego, da miséria social, do custo de vida para os trabalhadores (as), enfim, os problemas que a sociedade brasileira conhece em seu cotidiano e sempre ignorados de propósito pelo Governo Bolsonaro.
Porém, com diz um ditado popular, o que está ruim pode ficar ainda pior. Com o surgimento da Covid-19 em nosso país, passamos a ver todos os dias pelos meios de comunicações, notícias tristes de aumento dos casos de Covid-19, tanto em mortos (até o dia 20 de junho, mais de 50 mil mortos pelo Brasil) e mais de 1 milhão de casos, situações de dor, sofrimento, angústia, as também de esperança, como nos casos das pessoas que conseguiram sobreviver ao Corona Vírus. Mas enquanto tudo isso está ocorrendo e o Governo Bolsonaro? O que tem feito de efetivo nessa situação? Que medidas o mesmo tomou no sentido de combater a Covid-19? Que ações foram todas para se evitar o crescimento tanto da pandemia, como das consequências vindas dela para a sociedade?
Nessa questão, o Governo Bolsonaro tomou uma postura negacionista quanto a Covid-19, não reconhecendo os impactos reais promovidos pelo Corona Vírus. Nossa sociedade, debochando em muitas vezes do próprio problema como também das vítimas dessa doença, minimizando qualquer estudo desenvolvido até mesmo pelo Ministério da Saúde, entrando em atrito político com diversos governadores e até mesmo com os ministros Mandeta e Nelson Teich, que são inclusive médicos de profissão (chegando a demiti-los tempos depois), mostrando apenas como preocupação para o Governo a questão econômica, ignorando o valor humano em si, apenas dando preocupação com a economia, não levando em consideração nenhuma questão humanitária ou mesmo social.
Esta postura de negacionismo associado ao completo desprezo para com as questões sanitárias, só vem prejudicar ainda mais o combate ao Corona vírus. Bolsonaro e a sua equipe de Governo (quase toda constituída por generais de nosso exército, algo no mínimo estranho em uma democracia), pressionam o Congresso Nacional a votar leis e medidas provisórias que suspendam o isolamento social, por defender uma teoria chamada de " imunização de gado", que significa continuar a maioria da população pelo Corona Vírus para que a mesma resista a doença e ganhe imunidade quanto ao Corona Vírus, uma estratégia muito perigosa segundo os infectologistas, uma vez que a mesma pode é multiplicar os casos de morte em nossa sociedade, não resolvendo de fato o problema da Covid-19. Fora isso, Bolsonaro aliado do presidente norte-americano Donald Trump, defende o uso de medicamentos chamados de Cloroquina ou Hidroxicloroquina que, segundo os infectologistas, tais remédios não possuem eficácia plena comprovada para combater o Corona Vírus e desestimula sempre que pode, qualquer forma de contenção social aliada ao confinamento da população, passeando pelas ruas de Brasília ou apoiando as manifestações de seguidores seus, expondo-os ao mesmo risco de contrair o Corona Vírus.
Para piorar a situação, na área política, o Governo Bolsonaro entrou em choque direto com o Supremo Tribunal Federal (STF) por causa de investigações envolvendo o " Gabinete do Ódio ", um suposto grupo constituído de políticos e empresários aliados a Bolsonaro que, do Palácio do Planalto, conduzem uma equipe de programadores de softwares que comandam programas robôs que são utilizados nas redes sociais da internet para promoverem fake news contra adversários seus ou mesmo instituições que desafiam a sua autoridade. Fora isso, as medidas intervencionistas de Bolsonaro na polícia Federal que estava investigando as milícias no Rio de Janeiro e todas as suas ações diretas ou indiretas na sociedade e no Poder Público local, levou a demissão do ministro da Justiça Sérgio Moro e denúncias envolvendo filhos de Bolsonaro com denúncias de corrupção aumentaram a crise política em nosso país, situação que levou o mesmo Bolsonaro a mudar um pouco de postura em relação ao Congresso Nacional, buscando obter o apoio de um grupo de partidos políticos conhecidos como o "Centrão" (formados por vários partidos de centro-direita), para evitar dessa forma, qualquer processo de impeachment de seu Governo.
No meio de todo esse turbilhão de problemas, vem uma pergunta: e as questões sociais? Bolsonaro e o seu Governo adotou algumas poucas medidas, a exemplo da ajuda de 600 reais (apelidada de Corona Voucher) para os trabalhadores (as) que perderam os seus empregos ou subempregos por causa da Covid-19. A proposta apresentada do Partido dos Trabalhadores para esse auxilio foi no valor de 1 salario mínimo vigente (R$ 1.045,00), sendo aprovado o simbólico valor de R$600,00.
Contudo, com relação as grandes empresas e bancos, concedeu os maiores auxílios econômicos, socorrendo-as de uma possível falência. Do mesmo modo, o Governo Federal ainda prossegue com a sua agenda econômica baseada na destruição dos direitos trabalhistas e na política de privatizações de serviços e de empresas, com o então ex-ministro da educação Abraham Weintraub em uma reunião com o presidente e os demais ministros em abril recente (revelada pelo Supremo Tribunal Federal depois), defendendo a privatização do Banco do Brasil entre outras instituições públicas, isto quer dizer, a agenda neoliberal e ultraconservadora do Governo Bolsonarista continua seguindo normalmente as suas diretrizes, enquanto a sociedade sofre com a Pandemia da Covid-19, a permanência da grave crise do setor de saúde pública em nosso país (e que penaliza tanto os próprios profissionais de Saúde quanto a maioria de nossa população), o desemprego estrutural e geral, enquanto o Governo Bolsonaro buscar por exemplo adotar planos como no caso do Plano Safra que pode gerar sérios problemas para o sistema de Agricultura familiar em nosso país.
Toda essa realidade que o Brasil passa em 2020, revela a natureza mais brutal do Bolsonarismo e dos seus seguidores extremistas, preocupados somente com os seus lucros, desprezando os segmentos sociais mais pobres de nossa população, defender posturas autoritárias e de saudosismo a ditadura militar brasileira, do retorno do AI-05, tudo isso assistido pelas Oligarquias econômicas, políticas e militares que apoiam o Governo Bolsonaro, por estarem nele e por serem beneficiadas com ele. Por essas e muitas outras razões, segmentos diversos da sociedade, a exemplos de Centrais sindicais, partidos políticos de oposição, movimentos sociais diversos e tantos outros, descontentes com o Governo Bolsonaro e suas demandas desumanizadas e autoritárias, estão formando o movimento “Fora Bolsonaro”, buscando com isso, reagir e lutar contra o governo bolsonarista, buscando mobilizar a sociedade no sentido de reagir a tudo isso. O Brasil precisa retomar o crescimento econômico, mas sem desumanização, como também reduzir a Pandemia de Covid-19 e ter um Governo que não seja mais o de Bolsonaro.
Glauber Silva é dirigente do Sindicato dos Professores Particulares no Pará e Secretário Estadual de Comunicação da CUT/PA.