MENU

“O Sem Terra mais velho do país”

Símbolo da luta pela terra no Brasil e militante-artista, Seu Luiz chega aos 106 anos com muita disposição

Publicado: 15 Outubro, 2014 - 17h48

Escrito por: Maria Aparecida e Magnólia Fagundes - Brasil de Fato

 
 
 
 
“O Sem Terra mais velho do país”. É assim que algumas pessoas identificam Seu Luiz Beltrame, lutador e poeta que completou 106 anos na última sexta-feira (10). Símbolo da luta pela terra, Seu Luiz já participou de diversas marchas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Ainda hoje, mesmo com dificuldades de locomoção por conta da idade, fica bravo quando não o convidam para as atividades.
 
Baiano, de Paramirim, Seu Luiz tem oito filhos (dois já falecidos), 47 netos, 75 bisnetos e 20 tataranetos. Seu nome vem de uma homenagem a Santo Beltrão, uma vez que “em sua família já havia um Luiz e era preciso diferenciar”, esclareceu.
 
Como muitos nordestinos, veio da Bahia para São Paulo em busca de trabalho e acabou ficando nas lavouras de cana-de-açúcar. Atualmente vive em Coroados, interior do Estado com uma das filhas. Na cidade, mora boa parte de sua família.
 
Não chegou a frequentar escola, “mas aprendeu ler e escrever aos 14 anos a partir de ensinamentos de seu pai”, conta Camila Bonassa, integrante do Setor de Comunicação do MST-SP e que ajudou na publicação dos livros do Seu Luiz. Desde então usa a caneta e o caderno para anotar seus poemas, coisa que não fazia antes, “tendo que decorar cada uma das composições de poesias e músicas que fazia para animar bailes”, finaliza Camila.
 
Assim, em versos, passa narrar sua história de vida, que apresenta ao mundo através da publicação de dois livros que reúnem boa parte de sua produção. O primeiro, “Sonho com a Terra”, foi publicado de forma independente e o segundo, “Sonho com a Vida”, pela Editora Expressão Popular, ambos produzidos pelo MST.
 
Recentemente, o militante-artista foi protagonista do curta metragem “Luiz Poeta”, que segundo seus diretores Bruno Benedetti, Fábio Eitelberg, Patrick Torres, Pedro Biava e Rafael Stedile, nada mais é que o retrato de uma visita realizada em 2011 ao Seu Luiz e que rendeu muitas histórias.
 
Comemoração
 
No último sábado (11) as comemorações tomaram conta do salão de festas alugado pela família do Seu Luiz, no município de Coroados, interior de São Paulo. Depois da missa, um cortejo levou os cerca de 200 convidados, entre familiares, amigos e companheiros de luta, para assistirem as homenagens feitas ao artista-militante pelos integrantes do MST do Estado de São Paulo. Animado e sempre disposto seu Luiz acompanhou toda preparação e realização da festa.
 
Entre várias poesias escritas por Seu Luiz destaca-se “Injustiça”, escrita em 1980 e publicada no livro “Sonho com a Terra”, de 2002.
 
 
 
Eu fico surpreso e penso,
 
 
Que neste Brasil imenso
 
 
Sempre olho para lá
 
 
Vejo a bela natureza,
 
 
Vejo a grande riqueza
 
 
Da Serra do Carajás
 
 
O tucano bica a gente
 
 
Fica e pega a cuíca
 
 
Escuto alguém falar
 
 
E me mata de tristeza
 
 
Que não convém a riqueza
 
 
Da Serra do Carajás
 
 
Não é preciso pressa,
 
 
Nem muita conversa
 
 
A maneira é esta
 
 
E eu vou explicar
 
 
Pois o nosso tesouro é
 
 
A prata, o diamante e o ouro
 
 
Eu acho um desaforo
 
 
Ver o americano levar
 
 
Eu topo qualquer parada
 
 
Até não falo mais nada
 
 
Porque a Serra Pelada
 
 
É nossa Serra Vestida
 
 
Pois tem a riqueza,
 
 
Fruto da natureza
 
 
Com uma grande beleza
 
 
Da nossa Pátria querida
 
 
Estou velho e não agüento
 
 
Com sentimento escrever
 
 
Mesmo assim estou escrevendo,
 
 
Com os olhos estou vendo
 
 
Pois eu estou percebendo
 
 
Minha lágrima descer
 
 
A lágrima desce por tudo
 
 
O que eu vejo acontecer