Escrito por: CUT-PA

Afeganistão, a volta do Talibã ao poder.

Afeganistão, a volta do Talibã ao poder e a derrota dos Estados Unidos e de parte do seu Imperialismo na Ásia Central.

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Mapas: Guerra do Afeganistão (2001-2021)

Os Estados Unidos, após os ataques terroristas ao seu território  em 11 de setembro de 2001, atribuídos a Al-Qeada de Osama Bin Laden, pressionaram o Governo talibã no Afeganistão a entregar o terrorista Saudita, sendo rejeitada essa proposta pelos talibãs, situação que levou os norte-americanos a desenvolverem a Guerra do Afeganistão e em nobre de 2001, a derrubarem o Talibã do poder local.

Os povos do Afeganistão são conhecidos historicamente como notáveis resistentes aos invasores de suas terras, que mesmo vivendo em condições inóspitas, são profundamente obstinados por sua soberania e fortemente conservadores na preservação de seus valores e crenças. Não foi à toa que os Impérios grego (liderado por Alexandre Magno), indiano e mongol (ambos na Idade Média), britânico (no século XIX), soviético (século XX, de 1979-89) e agora o norte-americano (século XXI, de 2001-21), conheceram suas derrotas não apenas militares, como também de seus interesses imperialistas na região da Ásia Central, uma região que, embora seja menos conhecida no Ocidente, possui muitas riquezas naturais,  culturais e serve até hoje de rota de passagem de atividades econômicas de grande relevância para o sistema capitalista e a potência mundial que tiver a possibilidade de articular com os povos desta região negócios diversos, terá lucros de bilhões de dólares para se nutrir.

Os Estados Unidos, além da questão da Guerra ao Terrorismo islâmico, também perceberam essa possibilidade de controle e rentabilidade com esta região.  Embora o Afeganistão não seja um país produtor de petróleo ou possua grande reservas de metros cúbicos de gás natural, por exemplo, pode ser utilizado como uma lucrativa rota de passagem do petróleo  e também de gás natural que é produzido nas ex-repúblicas soviéticas da Ásia Central (Cazaquistão, Uzbequistão,  Turcomenistão, Tadjiquistão e Quirguistão), rota esta que termina no Paquistão e deste, tais comodities são deslocadas por navios pelo Mar da Arábia para o Ocidente, abastecendo as suas indústrias e sociedades. Então, além do Afeganistão, a Ásia Central e suas riquezas, era uma das razões da longa permanência das tropas dos Estados Unidos no Afeganistão, além do uso de bases militares dos Estados Unidos nas ex-republicas soviéticas da Ásia Central e do Paquistão, um considerável negócio.

O problema é que os Estados Unidos não contavam ou mesmo subestimaram a resistência da guerrilha Talibã e os interesses de alguns países com a mesma região. Um dos maiores interessados nesta mesma região da Ásia Central é a China, nação que faz fronteira com o Afeganistão e que também mantém muitos negócios com o Paquistão, assim como também com as ex-republicas soviéticas e islâmicas da Ásia Central. A China está desenvolvendo com êxito um projeto conhecido como a nova " Rota da Seda ", baseada nos investimentos chineses em países da Ásia em que suas estradas passem transportando suas mercadorias e sua tecnologia 5G, que será aplicada nesses mesmos países, deixando-os sob forte dependência ao capital chinês. A intensificação dos investimentos chineses na região nos últimos 20 anos sobrepujou as ações do imperialismo norte-americano na área, reduzindo a força do capitalismo estadonindense na região, aumentando com isso, o poderio dos negócios chineses, a exemplo da relação atual entre a China e o Paquistão, que se tornaram parceiros estratégicos.

Outra nação muito interessada também na região da Ásia Central é a Rússia, que embora não tenha a disponibilidade de grandes recursos econômicos para investimentos estruturais se comparada com a China, também busca fortalecer sua posição imperialista na região, reforçando a sua influência geopolítica e militar nas ex-republicas soviéticas muçulmanas, como também no Paquistão,  no Irã e na Índia, sem contar com a parceria econômica que os russos vêm mantendo neste início de século XXI com a China,  onde os dois países não são rivais econômicos, mas sim parceiros em relação as ações que ambos desenvolvem nas regiões onde mais operam economicamente,  a exemplo da própria Ásia Central, além é claro, de Moscou buscar fortalecer sempre esta parceria, uma vez que, após a anexação da Crimeia pelos russos em 2014, depois da queda do Governo pro-russo na Ucrânia e o apoio também russo aos separatistas da região de Donbass na Guerra Civil da Ucrânia  (2014), os Estados Unidos e a União Europeia decretaram um embargo econômico a Rússia como forma de enfraquece-la economicamente,  embora isto não tenha alcançado o sucesso que norte-americanos e europeus esperavam, mas tem prejudicado a Rússia, isolando-a de parte da economia mundial.

Além da China e da Rússia, nações poderosas que estão aproveitando a derrota militar dos Estados Unidos no Afeganistão e a diminuição de parte do seu Imperialismo na região da Ásia Central, existem também outras nações que buscam alcançar proveito dessa realidade. O Paquistão é uma delas, pois o mesmo apoia o Talibã e ver esses extremistas Islâmicos assumirem o poder em Cabul, significa ganhar um novo  aliado regional e com isso, distanciar o Afeganistão da esfera de influência da Índia, tradicional inimigo político do Paquistão, além de utilizar o Afeganistão como rota de intercâmbio comercial com outros países da região, a exemplos do Turcomenistão  e do Uzbequistão. Além do Paquistão, temos também o Irã que apesar de possuir algumas divergências políticas com o Talibã, o apoiou na Guerra contra os Estados Unidos e, é claro, também buscará alguma forma de coexistência com o Talibã, uma vez que os iranianos possuem uma forte inimizade política com os Estados Unidos, Arábia Saudita e Israel (por razões diversas relacionadas ao imperialismo no Oriente Médio, além das questões relacionadas a economia petrolífera e de gás natural e da polêmica questão envolvendo o controverso Programa Nuclear iraniano), mas uma aproximação considerável  com os interesses da Rússia e da China. Para completar, temos a Turquia do Presidente nacionalista e também internacionalista Recep Tayyp Erdogan, que busca desenvolver o Imperialismo turco na região da Ásia Central, buscando de alguma forma, construir uma espécie de Frente Pan-Islamica em regiões da Ásia Menor, Oriente Médio e Ásia Central, já tendo aliados declarados como os governos  do Azerbaijão e do Paquistão e que agora, buscará incluir também o Afeganistão no domínio dos talibãs em sua frente islamica, buscando dessa forma ampliar os negócios turcos na região.

Como se pode ver, a retirada das forças norte-americanas do Afeganistão não apenas evidência a sua derrota militar neste início do século XXI, mas também o avanço da pluralidade de domínios imperialistas na Globalização do século XXI, levando adiante a novas disputas pelo mundo não só de mercados, como também pela posse das riquezas naturais e pela lucratividade do sistema financeiro mundial. Mais um século de disputas, guerras e negociações no jogo do tabuleiro geopolítico global se desenvolve. 

Breve análise feita pelo Professor Glauber Sávio Silva.

 

Mapas: Guerra do Afeganistão (2001-21).

 

Fontes: Google e BBC.